Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – Diretor da ADASA
Gustavo Antônio Carneiro - Superintendente de Recursos Hídricos da ADASA
No Distrito Federal (DF), há cerca de dois anos, o uso da tecnologia de transmissão de dados remotos, por meio de satélites, vem ajudando na garantia do uso múltiplo e racional da água, e na redução de conflitos pelo uso de recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Preto.
Jorge Enoch Furquim Werneck Lima – Diretor da ADASA
Desde 2010, com a criação do Comitê de Bacia dos Afluentes do Rio Preto no DF e o avanço da implementação dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos na região, cresce a percepção de todos sobre a importância da participação dos produtores agrícolas nas discussões sobre o tema, bem como da necessidade de dados e informações para a adequada gestão dos recursos hídricos. A crise hídrica recentemente vivenciada no DF, até 2018, tornou essa necessidade ainda mais evidente. Com disponibilidade de água insuficiente para atender a todos os irrigantes nas bacias dos rios Jardim e Extrema, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA, órgão responsável pela gestão dos recursos hídricos no DF, foi obrigada a implantar um processo de alocação negociada de água nessas unidades hidrográficas. Nos momentos mais críticos, as restrições de uso da água eram ainda mais apertados nos turnos de irrigação, fazendo com que brotasse, nos próprios produtores, a necessidade de conhecer melhor a realidade do uso da água e de acompanhar se todos estavam cumprindo os acordos firmados.
Gustavo Antônio Carneiro - Superintendente de Recursos Hídricos da ADASA
Os irrigantes contaram com o apoio de técnicos da Emater para ajudar no processo de alocação da água e, posteriormente, buscaram uma empresa especializada que pudesse oferecer o serviço de monitoramento do uso da água nos pivôs-centrais na bacia e a disponibilização, em tempo real, dos dados para os usuários. Hoje, cerca de 70 pivôs são monitorados.
Sob supervisão da ADASA, os produtores contrataram o serviço de monitoramento dos usos e, agora, todos conseguem acompanhar por meio do computador ou aplicativo do celular, quem está irrigando a cada momento. Tudo isso em tempo real e com transparência total!
Anualmente, a Emater apoia a construção do acordo de alocação negociada da água, que é posteriormente homologado na ADASA. A agência também tem acesso ao aplicativo e aos relatórios de uso da água disponibilizados pelo serviço de monitoramento, podendo acompanhar os usos da água dos diferentes pivôs de irrigação da bacia e intervir, se necessário. A ADASA ainda mantém uma estação de monitoramento hidrometeorológico no final da unidade hidrográfica, também com transmissão telemétrica dos dados, por meio da qual se acompanha o nível do rio e se as vazões mínimas naquele ponto de entrega estão sendo respeitadas. Dessa forma, com uso de dados, conhecimento técnico e transparência em todo o processo de alocação negociada, por mais duras que sejam as restrições do uso da água, os conflitos e a desconfiança pós-alocação praticamente acabaram. Vale destacar também o ambiente de cooperação instituído na bacia. Quando, por algum motivo, um produtor não pode irrigar no horário estabelecido no termo de alocação, este informa com antecedência ao grupo de irrigantes, de modo que sempre aparece outro usuário disposto a trocar ou ajustar o horário para ajudá-lo.
O sistema de monitoramento dos usos nos rios Jardim e Extrema é um caso de sucesso, que serve como um modelo, praticamente, de autogestão do uso água, com atendimento às regras de vazão mínima de entrega na foz da bacia, além de observar os normativos e as orientações emitidas pelo órgão gestor dos recursos hídricos. Essa experiência motivou a ADASA a publicar, em 2019, resolução específica sobre o monitoramento das captações superficiais de água acima de 5 l/s em todo o DF.
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