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Estudo: teor de arsênio detectado na bacia do Córrego Rico não oferece riscos à saúde humana.

Por Juliana Gracieli R. de Oliveira

Bióloga, analista ambiental, Irriganor. Estudos realizados no solo, plantas e grãos na bacia do Córrego Rico revelam que o teor de arsênio detectado não oferece riscos à saúde humana.

Em fevereiro/2020 usuários da bacia do córrego Rico em Paracatu-MG receberam, estarrecidos, a notícia da suspensão por cinco anos das outorgas de direito de uso de recursos hídricos no córrego Rico, bem como na sua bacia de contribuição através da publicação da Portaria IGAM nº 09, de 07 de fevereiro de 2020 sob a alegação da presença de teores elevados de Arsênio total presentes nos cursos hídricos.


Os produtores rurais localizados nos trechos que foram embargados se uniram com esforços mútuos para contratação de um estudo das análises de água que fosse apresentado ao órgão gestor responsável, IGAM, (Instituto Mineiro de Gestão das Águas). Os resultados obtidos com esse estudo foram apresentados ao IGAM com participação e mobilização da Irriganor e resultou na publicação da Portaria IGAM nº 24, de 20 de maio de 2020, que no seu artigo 1º reduziu a abrangência da suspensão temporária das outorgas autorizativas de uso dos recursos hídricos, autorizando que alguns trechos fossem liberados.


Os teores de Arsênio (As) total coletados na bacia do córrego Rico registraram teores de Arsênio total que variaram de <0,002 a 0,098 mg L-1, e um segundo estudo foi proposto e buscado pelos produtores rurais envolvidos nesta problemática que foi a investigação para quantificar e determinar a origem do As em áreas agrícolas visando avaliar os teores totais e disponíveis desse elemento de maneira estratificada e em diferentes profundidades, além dos solos de áreas cultivadas e em reservas naturais na região do Córrego Rico e sua bacia de contribuição em Paracatu-MG.


Além disso, o estudo procurou avaliar a efetiva fitodisponibilidade do As do solo dessas áreas através de análises desse elemento também no tecido foliar e, ou, em partes comestíveis (i.e., grãos). Ao final, esperou-se do mesmo ter elucidações comprobatórias suficientes para verificar se o As presente nos solos estaria sendo translocado para partes comestíveis das plantas, oferecendo, assim, riscos à saúde humana ou de outros animais.

Figura 1. Trecho da bacia hidrográfica do Córrego Rico interditado para captação de águas

superficiais. Fonte: Relatório Técnico Empresa Campo Análise


Segundo estudo realizado e apresentado pela empresa técnica Campo Análise foram realizadas amostragens de solos e tecido vegetal (grãos e folhas) em dois momentos distintos. Primeiramente, para uma avaliação preliminar da distribuição espacial do As e identificação de pontos de anomalia (hot spots) na porção maior da área de interesse, foram coletadas amostras de solo da camada de 0 a 20 cm e de grãos e plantas remanescentes na área conforme pode ser visualizado na figura a seguir. As coletas foram realizadas tanto em áreas cultivadas, quanto em áreas preservadas.

Figura 2: Pivot central com “hot spots” marcados em amarelo para amostragem de solo e tecido vegetal. Áreas de reserva legal com pontos de coleta demarcados em verde. Fonte: Relatório Técnico Empresa Campo Análise.


Foram analisadas 120 amostras de solo e 30 amostras de material vegetal feitas pelo Centro de Tecnologia Agrícola e Ambiental da CAMPO. Os dados apresentados se referem às médias das áreas (n = 3 repetições de campo). Convém salientar que o objeto do estudo em questão é o arsênio, porém deve-se levar em consideração que a sua maior incidência não está relacionada de forma isolada, o que leva a crer que outros fatores possam influenciar em sua concentração elevada como atividades antrópicas e a mineração.


Segundo Relatório Técnico apresentado pela Campo Análise a depender das concentrações do arsênio no solo, é necessário investigar a sua origem e, uma das maneiras, é comparar o comportamento desse elemento com aquele de elementos semelhantes, como o fósforo (P), que é adicionado em solos agrícolas para fins de cultivo.


Diferentes e específicos parâmetros foram adotados pelos técnicos responsáveis neste estudo na análise do solo, reservas naturais e material vegetal (tecido foliar e grãos) conforme aponta o estudo realizado e as conclusões finais são:

- após as análises de solos e plantas nas áreas selecionadas ficou manifesto que a fonte de As nos solos estudados é natural e de baixíssima biodisponibilidade;


- o perfil de distribuição de As total no solo é homogêneo, o que permite a inferência de que os teores de As encontrados não podem ser atribuídos a uma ação antrópica;


- os solos da região são naturalmente enriquecidos com esse elemento devido às condições de geogênese local;


- mesmo presente em teores totais elevados no solo, o arsênio encontra-se em formas muito estáveis, não estando, por conseguinte, disponível às plantas e não oferecendo risco à saúde da população bem como risco ecológico que possa ser evidenciado em função do conhecimento científico atual, encontrando respaldo inequívoco na literatura científica internacional.


Os usuários da bacia do córrego Rico ainda aguardam ansiosos por um novo Parecer Técnico do IGAM para que possam seguir com suas atividades relacionadas a irrigação ou outros usos dos recursos hídricos.


 
 
 

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